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Bos BBQ - Um pedaço (bem pequeno) do Texas em São Paulo

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Uma das culinárias mais desprezadas por pessoas que efetivamente gostam de gastronomia é a norte-americana. Muita gente acredita que uma refeição, para o povo lá das terras do Tio Sam, é basicamente hamburguer, batatas fritas e, no máximo um cachorro quente. Não poderiam estar mais enganados. Pela extensão continental do país, os Estados Unidos, assim como o Brasil, tem muitas variações gastronômicas de acordo com cada região (por exemplo, a cozinha cajun, a culinária indígena, entre tantas outras), e talvez uma das mais conhecidas seja a sulista.


Além da famosa versão própria da culinária mexicana, o Tex-Mex, o sul dos EUA tem também uma forma muito particular de fazer os famosos barbecue: o chamado Churrasco Texano. Assim como o Chimichurri na Argentina, se você perguntar para dez pessoas desse estado como fazer um churrasco perfeito, você vai ter dez maneiras de prepará-lo, mas uma característica é comum a todos: carnes assando e defumando por horas e horas dentro de uma churrasqueira chamada de Barbecue Pit. Entre modelos de tijolos, aço e até buracos na terra, os texanos deixam seus cortes de carne, especialmente de porco, por horas a fio em baixa temperatura, garantindo assim um assado tenro e suculento. Mas, para experimentar tais iguarias, você teria de ir ao Texas, certo? Não mais, pois temos em São Paulo uma churrascaria texana: a BOS BBQ.

Um exemplo de Barbecue Pit
Com uma barbecue pit desenvolvida e importada especialmente para a casa (que eles não autorizam ninguém a conhecer), a BOS tem em seu cardápio pratos típicos de um churrasco texano, agregados ao gosto brasileiro: só em um lugar desse você pode imaginar uma costela de porco no pit acompanhada de cole slaw e feijão, por exemplo. Em nossa incursão, junto com nosso casal de amigos que volta e meia nos acompanha nestas expedições gastronômicas  uma surpresa agradável: a mesa, que estava reservada para às 20h00 (e chegamos por volta das 20h30), ainda estava disponível; um ótimo começo.

Na entrada, saquinhos de amendoim com casca (que me lembraram a balsa Santos-Guarujá) são oferecidos como cortesia para os clientes, assim como "água filtrada". 

Atendidos pela divertida garçonete Meg, que nos trouxe o cardápio simples e funcional - duas páginas, frente e verso - fomos informados que "talvez não houvessem mais costelinhas", que pediríamos para entradas, pois há a limitação de quantidade da iguaria devido ao tamanho do Pit. Enquanto escolhíamos os pratos principais, ela foi verificar a disponibilidade da costelinha e…. surpresa número 2: ainda existia a entrada (que, ao meu ver, deveria ser identificada no cardápio como algo em quantidade diária limitada). Pedimos os pratos e bebidas. Aí vem a surpresa número 3: a desagradável. A mesma atendente nos informa que, graças a um problema na fritadeira, não haviam batatas fritas... Por um lado, perdoável, pois eles estavam cuidando da imagem do produto deles, certificando-se que não haveriam porções de batatas encharcadas ou cruas, mas por outro…. Uma casa que acabou de abrir, com um investimento pesado, sobreviver com uma fritadeira só? Não nos agradou nem um pouco… no fim das contas, acabamos pedindo nossos pratos acompanhados de Cole Slaw, salada e feijões (sim, feijões.. opção da Cá);

Pedimos o tradicional Pulled Pork, um sanduíche de carne de porco desfiada depois de assada por horas a fio no Pit. Além dos lanches, também veio a Picanha Barbecue (assada no Pit também). Pouco antes dos pratos chegarem, a boa notícia: a fritadeira voltou a funcionar! Fritas para todos! E assim partimos para a segunda rodada (após a tenra e bem assada costelinha de porco de entrada) mais felizes.

Algo no local merece um capítulo a parte: Os molhos feitos especialmente para a casa. Com 3 variações de molhos Barbecue (chamados de Espresso – a base de café -, Honey – com mel -, Bos – levemente picante, um barbecue tradicional ), e o ótimo molho de pimenta Refresco – a base de Habanero fresca defumada por horas no Pit, os molhos fazem da visita ao Bos BBQ uma experiência bem mais agradável, independente da qualidade do resto.
As estrelas da casa: o Pulled Pork, a Picanha no Pit,
os molhos exclusivos e a costelinha em versão
entrada, com fritas (fotos: divulgação)

Mas, voltando aos pratos principais, o Pulled Pork veio com a carne macia, bem temperada e regada do molho clássico barbecue, bem ao estilo americano… exceto pelo tamanho! (Pois os originais americanos são muito maiores, a ponto do recheio mal caber dentro do pão), e a picanha, em ótimo tamanho e no ponto certo que foi pedida, deixava um pouco a desejar por não ser uma combinação tão boa assada no Pit como outras carnes. Em qualquer churrascaria de boa qualidade você encontraria picanhas tão boas ou melhores – até fazendo em casa. As lendárias batatas rústicas (lendárias porque quase não chegaram e virariam lenda mesmo) vieram no ponto certo, crocantes por fora e macias por dentro, e a Cole Slaw não comprometeu, bem montada e temperada, ao estilo texano.

Para finalizar, sobremesas: a famosa Key Lime Pie, torta de limão que é citada em 10 de 10 resenhas sobre o restaurante na internet, e a torta de chocolate da Dona Lynette (mãe de um dos sócios do Bos): ambas apenas corretas, e nada além disso. A Key Lime Pie decepcionou pela expectativa gerada antes da chegada da torta (pois existem tortas de limão infinitamente melhores nas confeitarias ao lado da sua casa, é só procurar!), enquanto a torta da Lynette não surtiu o efeito de felicidade em chocólatras assumidos.

Falando um pouco do ambiente, o Bos tem um visual bem despojado e intimista, parecendo restaurantes conhecidos como “neighborhood grill” (se você já foi em um Applebee´s, deve ter lido este termo já), locais relativamente pequenos, com iluminação baixa e amarela, vários enfeites de lugares diferentes do mundo (no caso, dos EUA), para dar a impressão de realmente ser um quintal onde as pessoas se encontram para fazer algum tipo de churrasco.
Fotos: divulgação

É uma pena que a administração do Bos não autorize os clientes a conhecerem o Pit deles, provavelmente com medo de copiarem a idéia (que é um temor relativamente idiota, pois você consegue projetar qualquer tipo de Pit só com informações da internet… e outra: onde está o respeito à lei 11.617, de 13/07/1994, onde se diz: “visite nossa cozinha”?), mas no geral, é uma experiência interessante para ir uma vez, e talvez uma única vez mesmo. O atendimento talvez seja a parte mais animadora do restaurante, pela simpatia e presteza da equipe, mas o cardápio ainda deixa a desejar. Existem muitas outras receitas tradicionais da culinária sulista norte-americana feitas no Pit que, ter desenvolvido uma peça dessas exclusivamente para o restaurante e fazer somente o Pulled Pork e a costela de porco vira um enorme pecado… quer uma idéia? Dê uma olhada em www.bbqpitboys.com e veja as possibilidades de cozimento nessa interessante churrasqueira, e tente adaptar ao nosso universo (churrasqueira, forno, etc…); garanto que você não vai se arrepender. 

D.

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