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Primo Rico, Primo Pobre: São Judas e a rota do frango com polenta

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Bom, primeiro devemos nos desculpar pelo blog ter ficado meio largadinho este ultimo mês e meio... correria no trabalho, depois merecidas férias.... ah, as férias, depois teremos textos deliciosos sobre ela... mas, deixando o mimimi de lado, vamos ao que interessa!

Um "abismo" se localiza entre os números 1749 e o 1911 da avenida Maria Servidei Demarchi, em São Bernardo do Campo. Na famosa rota do frango com polenta, duas famílias tradicionais da cidade administram dois enormes restaurantes com a mesma proposta, mas tão diferentes em tanta coisa: tratam-se das casas São Judas Tadeu e São Francisco.



Excluindo os outros restaurantes da famosa rota (como o Florestal, o Gaia e vários outros), o foco nestas duas casas se explica: no último fim de semana, pensando em um lugar para almoçarmos às 14h30 (horário em que muitos restaurantes no ABC, especialmente São Bernardo, já fazem cara feia se você tenta entrar neles, para fecharem às 15h), a Cá sugeriu de irmos à Rota, e, apesar de não sermos habitués da região, marcamos nossa presença de tempos em tempos, mas praticamente sempre no São Judas e no Florestal.



Com a intenção de variarmos, fomos ao São Francisco desta vez, e, nossa coleção de surpresas começou com uma negativa, logo de cara: Enquanto o São Judas, um dos 3 maiores restaurantes do Brasil, superlativo em todos os aspectos, nunca está lotado, mas tem uma ocupação razoável (acho que de 50 a 60% da casa nos fins de semana comuns), o São Francisco estava literalmente às moscas, com 4 ou 5 mesas ocupadas. A segunda supresa, muito positiva, foi no atendimento da hostess da casa, que explicou o sistema de funcionamento do restaurante (que já conhecíamos, mas foi atencioso da parte dela), já com os preços, inclusive. No São Judas, o atendimento inicial é bem falho, as pessoas simplesmente te levam para uma mesa e acabou. Provavelmente, diferenças criadas pela quantidade de gente que entra no restaurante diariamente e a necessidade de rapidez no restaurante dos Demarchi em relação ao dos Morassi.


O sistema das duas casas é bem equivalente, come-se o quanto quiser por um valor específico, com ilhas bem determinadas: saladas, pratos quentes, massas com molhos feitos na hora, churrasco e sobremesa; ou opta-se por um cardápio à la carte, com valores normalmente muito mais caros. A terceira surpresa vem no preço: enquanto o São Judas é um restaurante relativamente caro, o São Francisco tem preços mais acessíveis, com o buffet de almoço nos fins de semana custando R$ 29,90 por pessoa; ponto positivo pros Morassi, mesmo não tendo a enorme variedade de pratos do primo rico.


Mas, como estamos falando da rota do Frango com Polenta, nada mais justo que avaliar os restaurantes também no prato principal deste ponto turístico sãobernardense. Enquanto a ocupação do São Judas faz com que a reposição seja constante, o São Francisco acaba ficando com pratos mais tempo nos rechauds, o que gerou os dois únicos problemas do local no dia: a polenta estava extremamente ressecada e, se o frango à passarinho estava ótimo, sua versão à milanesa estava seca e fria. Mas todos os outros pratos do São Francisco estavam ótimos, do mesmo nível do mais famoso restaurante da rota. A Cá, inclusive, achou a feijoada dos Morassi bem melhor que a dos Demarchi.

No final, sobremesas em menor número de opções, mas que tinham aparencia muito melhor que as do São Judas (que parecem muito food service), e estavam de acordo com suas apresentações. Na conta, a diferença de R$ 20 no consumo médio de um casal (90 reais no primo rico, 70 reais no primo pobre) é praticamente suficiente para uma 3a pessoa almoçar no São Francisco. Mas o que fez um restaurante, que era tão lotado quanto o outro nos anos 1970 e 80 decair tanto em público? Acredito que o primeiro fator seja localização: quem vem pela Anchieta passa primeiro pelo São Judas, para depois de alguns metros chegar no São Francisco. O São Judas tem um acesso bem em frente à ele, enquanto o primo pobre depende de um retorno alguns metros à frente; mais importante que tudo isso, vem o segundo fator: a expansão feita pelos Demarchi no seu restaurante criou um colosso em plena avenida, enquanto o seu concorrente continua do mesmo tamanho da década de 80 (além de escuro e "velho" por dentro). E, para justificar este monstrengo de restaurante, no caso do São Judas, claro, é necessária muita divulgação e publicidade feita pelos Demarchi o que contribui muito para que o primo rico seja mais famoso e cheio. Mas ambos, assim como o Florestal, ainda apostam a maior parte de seu faturamento na combinação Jantar-show, sempre com nomes conhecidos do público em geral (ainda que não gostemos de, por exemplo, Victor e Leo, sabemos quem eles são).


Notamos muitas mesas reservadas (para grupos sempre maiores que 12 pessoas) no São Francisco para o jantar; pode ser que um pouco de sua pompa ainda perdure às noites, o que é justo, pois é uma pena ver um restaurante deste nível ficar deserto como estava no sábado. Nesta disputa entre primo rico e primo pobre, dar uma chance para o menos abastado pode ser muito mais interessante do que você imagina. Tente atravessar o abismo e chegar no número 1911; dificilmente você se arrependerá.

D.