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210 Diner: Altos e baixos de um restaurante típicamente italo-francês-brasileiro-afro-americano

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Havia algum tempo, eu comentava com a Cá que eu queria conhecer um restaurante inaugurado em SP em 2010, pelo conhecido restaurateur (não consigo considerar como um chef um cara que tem mais de um restaurante, de conceitos completamente diferentes e que não é visto na cozinha nunca) Benny Novak, do Ici Bistrô, e seu sócio Renato Ades. O conceito do restaurante: comida típica americana. O que não significa só hamburgueres e batatas fritas, há um pouco mais de cultura na vida gastronômica estadunidense do que estamos acostumados a ouvir.

No simpático bairro de Higienópolis, lá fomos nós, eu e a Cá, gente diferenciada, com meu possante carro alugado, para conhecer o local, depois de várias tentativas frustradas e hesitação em outras. Nossa primeira surpresa: em uma rua com muitas opções (e todas praticamente cheias, como a Mercearia do Francês, logo na esquina), e em plena hora do almoço de domingo (13h30), o restaurante estava muito tranquilo, podendo dizer até vazio, com menos de metade de suas mesas ocupadas. O ambiente realmente é de um "Diner" americano, com sofás de couro escuro e envelhecido fazendo as vezes de cadeiras, mesas enfileiradas simetricamente e o bar logo na entrada, dá até para se imaginar no Lou's Cafe, de Hill Valley, só faltando um McFly ou um Tannen entrar pela porta. Mas, não é de citações cinéfilas que vive este blog, então vamos ao que interessa: a comida.

Logo de entrada, pedimos uma iguaria que brilhou no cardápio, piscou para nós várias vezes, implorou para ser pedido para o garçom e não decepcionou: o Bacon de defumação caseira, tenro, duas grandes fatias no ponto certo e muito bem acompanhado de maple syrup e vinagrete de salsa, talvez tenha sido o primeiro ponto alto do almoço. Mas, assim como a topografia das montanhas Rochosas, a dita "culinária americana" ainda nos ofereceria vales e picos. Após solicitar a entrada (que não cansou de piscar no cardápio enquanto não a pedissemos), começamos a vasculhar o (curto) cardápio em busca de nossas refeições; aí veio a segunda surpresa: o prato do dia era spaghetti ao molho de tomate com meio galeto. Quer coisa mais norte-americana? Então o que acha de um bom filet a parmegiana? Ou um chicken schnitzel? Todos eles parecem bem americanos, não?
Pois é, este foi o primeiro vale da nossa caminhada pela culinária americana paulista: Pratos italianos, pratos com toque alemão e até pratos de cardápio tailandês no menu, e as opções tipicamente americanas vão se esvaindo. Como a proposta era comer algo tipicamente americano, logo uma opção de carne saltou aos meus olhos: um Ribeye. Escolhidos os acompanhamentos (a clássica hash brown e creme de mílho rústico), vi a Cá pedir um Mac & Cheese em estilo Louisiana (com calabresa e levemente picante); ao chegar os pratos, ao mesmo tempo, um vale e um pico: enquanto o Ribeye se provava ser o que eu esperava, um alto filé do centro da costela, marmorizado à perfeição e no ponto certo, acompanhado por um ótimo creme de milho, adocicado e com muitos grãos de milho, o mac & cheese da Cá veio com pouquíssimo queijo e calabresa (mas muito champignon meio disforme), em uma porção relativamente pequena e não muito picante mesmo (alguns pontos era impossível distinguir algum ardume de pimenta no prato). Mas este não foi o grande vale da história.

Ao pegar o primeiro pedaço das duas bonitas hash browns que acompanharam meu prato, uma surpresa: batatas com gosto de peixe! Sim, peixe! muito provavelmente, a cozinha descuidada fritou as batatas em óleo utilizado anteriormente para peixe, ou utilizou os mesmos utensílios sem higienizar, cruzando os sabores (é possível que outros pratos tenham acontecido o mesmo naquele dia, mas não vimos ninguém reclamar), o que resultou em batatas douradas, lindas, com um aroma de arenque que não as pertencia. Já havíamos notado que o serviço, apesar de atencioso, era muito confuso, e quase 10 minutos depois de ter identificado o problema na hash brown, consegui solicitar a troca do acompanhamento, afinal, eu não pedi um peixe, e sim um belo filé de costela com batatas!


Junto da troca da hash brown, pedi ao garçom uma água com gás também, que até hoje deve estar me esperando em algum lugar lá. Terminamos de comer e passaram-se 10, 20, 25 minutos e a batata não havia retornado. Nesse meio tempo, tentamos falar com os garçons sobre isso, mas a confusão no serviço se tornava falta de atenção. Até que um deles resolveu nos trazer o cardápio de sobremesas, e já ouviu tudo o que tinha acontecido (falado pela 3a vez para a 3a pessoa diferente), e mandei cancelar a hash brown; Pedimos duas sobremesas, a Cá o clássico devil's food cake e eu o meu preferido cheesecake. Mais uma vez, o vale se tornou um pico: o bolo, enorme, macio, na textura certa, bem acompanhado por uma cobertura morna de chocolate amargo com uma bola de sorvete de creme foi uma ótima opção, enquanto o cheesecake, refrescante por conta de um toque de limão siciliano em seu recheio, fazia sua parte com louvor.


Na hora da conta, outro vale: além da demora para conseguir pedir a conta, ela veio constando as hash browns canceladas; bola fora da equipe de garçons, corrigida com muita simpatia pelo rapaz que nos trouxe a conta, no que talvez foi o ponto alto do serviço (pena que tanta simpatia só apareceu realmente no final do almoço). A salgada conta apresentada não era nenhum absurdo, contando entrada e sobremesas, mas, se você pensa em gastar pouco com culinária americana, a melhor opção hoje em dia é o Burger King, visto que nem o KFC é barato. Da experiência no 210 Diner, ficam os vales marcados com mais intensidade que os picos, e a vontade de aprender a defumar carne para conseguir fazer um bacon daqueles... Ah, o bacon.....

D.

Comments (2)

Eu gosto desse cara que escreve de vez em quando nesse blog. Não é tão bom quanto a dona do blog, mas, definitivamente, tem algo a mais nele!

Tem muita inteligencia, só para começar!
O resto, é muita qualidade e pouca linha para escrever aqui!

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