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Histórias da Culinária Brasileira - Os Velmont e a Coxinha

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Hoje é dia de postar algo diferente. Como minha amadíssima chef e blogueira disse em um post anterior, o Criticozinha não é, originalmente, um blog para falar mal (ou bem) de restaurantes e casas do gênero. É um espaço para falar sobre todo tipo de incursão gastronômica, inclusive - por que não? - a histórica.
Lendo uma matéria sobre um diálogo que ocorrerá na novela das 21h da Globo (que estava na capa de um grande portal - e, sim, quando acho alguma coisa interessante sobre qualquer tema, leio, afinal, como diria meu finado mestre Mário Chamie: repertório é tudo!), dois personagens discorrerão sobre a história da maior iguaria salgada do mundo, a verdadeira refeição completa, equilibrada na quantidade de carboidratos, proteínas, gorduras, vitaminas, minerais e tantas outras coisas: a coxinha!



Lendo este texto, me veio a idéia de resgatar algumas histórias de alimentos tão consumidos no nosso dia a dia, mas que nem todo mundo sabe que são 100% brasileiros e como foram criados. Para começar, claro, vossa majestade, a Coxinha!
Tudo teve início no século XIX, com uma senhora chamada Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon. Comprido o nome? Então vamos encurtar para sua alcunha mais famosa: a Princesa Isabel. Aí você se pergunta: o que nossa última princesa imperial, primeira senadora da história do Brasil e conhecida como "a Redentora" por conta da lei Áurea tem a ver com nossa querida coxinha? Efetivamente, nada! Mas duas pessoas muito ligadas à ela são as responsáveis pela criação da iguaria: seu filho e uma cozinheira de sua casa.
A Princesa Isabel teve 4 filhos: uma morta ao nascer, Luiza, e outros três filhos homens. Reza a lenda que um deles era considerado deficiente mental, e que vivia afastado da sociedade em uma fazenda em Limeira, chamada Morro Azul. Vivendo isolado, apenas com o contato com a criadagem da casa, o menino adquiriu uma grande predileção por carne de galinha, sendo sempre necessário ter no seu prato uma coxa de galinha ou o peito desta. Ao notar que não havia carne o suficiente para servir durante uma refeição, e preocupada com o escândalo que o menino poderia fazer, uma cozinheira da casa resolveu desfiar toda a carne da única galinha disponível e transformar, de alguma forma, toda a galinha em "coxas".
Disso, nasce o conhecidíssimo formato da coxinha, e sua receita original. A criança gostou tanto que o salgadinho passou a ser obrigatório em todas as suas refeições. Ao visitar a criança, a então Imperatriz Tereza Cristina, observando o prazer com que o menino degustava a iguaria, resolveu experimentar uma, e gostou tanto que solicitou a receita para ser fornecida para o Mestre da Cozinha Imperial, e aprovou a receita para servir aos seus convidados, sempre que o Mestre achasse conveniente.
Mas, além da coxinha, outras tantas iguarias foram criadas aqui no Brasil e nem todo mundo sabe, por exemplo:


- Brigadeiro: originalmente chamado (e ainda conhecido) no Rio Grande do Sul como Negrinho, o brigadeiro surgiu em uma campanha eleitoral. Durante a primeira metade do século, era muito comum que as eleitoras simpatizantes dos candidatos trocassem docinhos por donativos de campanha. Em uma eleição entre Eurico Gaspar Dutra, candidato do PSD e do PTB, e o Brigadeiro Eduardo Gomes (um dos heróis do episódio dos “18 do forte”, e que se apresentava como o "brigadeiro que é bonito e solteiro”), pela UDN. Uma senhora de Minas Gerais, diz a lenda, fez os primeiros docinhos “negrinhos” e oferecido ao candidato “os docinhos preferidos do brigadeiro”. Mais tarde, o nome foi simplificado.

- Pé de Moleque: outro doce tipicamente brasileiro, feito da mistura do amendoim torrado com a rapadura de cana de açúcar, tem como expoente a produção na cidade de Piranguinho, conhecida como a capital mundial do pé de moleque. Como curiosidade, não existe uma versão oficial para o nome dele, sendo duas as lendas mais conhecidas: a primeira, é que o doce ficava da cor dos pés calejados das crianças que brincavam o dia inteiro descalças na rua. Outra, mais conhecida, remete o nome às cozinheiras que produziam o doce em Piranguinho, que cansadas de verem a meninada roubar o doce da janela enquanto estava esfriando, gritavam para eles “Pede, moleque!”.

- Feijão Tropeiro:Uma das mais clássicas receitas da culinária mineira, o feijão tropeiro (a mistura entre farinha de mandioca, feijão, torresmo, linguiça, alho, ovos, cebola e outros temperos) nasceu pela necessidade dos tropeiros (os homens que transportavam cargas em lombos de burros ou tropas de cavalos - daí o nome “tropeiro”), que cortavam o estado de MG com diversos produtos ou conduzindo gado, por uma refeição que fosse fácil de fazer, pudesse ser carregada com eles e gerasse energia o suficiente para grandes caminhadas. Com uma refeição amplamente calórica, eles conseguiam ficar mais tempo rodando pelo estado sem precisar fazer paradas.

Pratos para todas as classes e todos os fins, receitas criadas e executadas com simplicidade ou grande complexidade. Nossa culinária talvez seja tão ou mais rica e vasta em opções quanto qualquer outro país do mundo. Isso é um das coisas boas do Brasil. Continuaremos a desvendar pratos típicos da culinária brasileira, de sua cultura regional ou sucessos nacionais como a santa, sagrada - e imperial - Coxinha!), em outros posts.

Até lá, bom apetite e divirtam-se!

D.

Comments (2)

Legal né? Eu lembro quando era criança, havia alguns botequins e lanchonetes (pelo menos aqui no RJ - anos 80), em que era comum a coxinha ser feita com o osso da coxa do frango, para efeito decorativo. E a gente acabava segurando a coxinha por ela para comer, era uma delícia.

Verdade Marcelo, por aqui tambem! Mas infelizmente o que e tradicional está virando "gourmet"... na minha opinião estão enfeitando demais a coxinha..... e cobrando muito caro por isso! obrigada pela visita aqui no blog! bjos

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